Vendo concretizado este projeto, sinto-me pleno. De fato, nada pode dar mais alegria a um compositor do que ouvir suas criações nas vozes de outros intérpretes, ainda mais na quantidade e com a qualidade dos que embarcaram de pronto nesta viagem, todos com desprendimento e sensibilidade ímpares.
São quarenta e cinco canções distribuídas em três volumes que abrem o leque para a minha obra inquieta e que têm como objetivo apresentar várias possibilidades musicais. A ideia inicial de fazer um único disco foi tão bem recebida que se multiplicou como que por milagre. E ao ver chegar as canções gravadas da forma como cada um deles as entendeu, iam-se descortinando em mim tantas e tamanhas sensações que, na verdade, se torna impossível descrevê-las.
Conhecer pessoas sempre me despertou grande interesse e com essa experiência eu pude manter contato com muita gente, o que, inclusive, me ajudou a crescer enquanto ser humano, ao possibilitar escolhas, burilar sugestões e aprender a respeitar o tempo de cada um.
Cabe-me agradecer, assim, aos vários seres iluminados que me auxiliaram durante o período de realização deste trabalho, de modo especial a todos os artistas que me deram a honra e o prazer de tê-los comigo, emprestando seus talentos às minhas palavras e melodias. E também aos grandes e fundamentais músicos que se fizeram presentes.
Após quatro álbuns independentes nos quais pude também mostrar minha voz, meu maior desejo com estes três CD’s é poder compartilhar a beleza de tantas emoções com todos quantos se permitam fazê-lo. E é esta vontade que me move a continuar criando. Sonhar é ótimo, mas viver é melhor ainda!
Rubens Lisboa
Em seu mais ambicioso projeto fonográfico, o cantor e compositor Rubens Lisboa apresenta 45 músicas inéditas...
Um audacioso compositor sergipano que acreditou em suas composições.
Se a regra hoje é o compositor gravar as próprias músicas e jogá-las na internet...
Os títulos deveriam ser sucintos, eu sei.
Os lançamentos acontecem a todo momento na produção independente.
Se coubesse um adjetivo apenas ao seu novo trabalho, esse seria OUSADIA!
Rubens Lisboa é um cantor e compositor com quatro discos lançados e um gosto eclético.
Ousadia foi um elemento chave para a finalização do disco.
A pluralidade de seus temas o levou à ideia de convidar alguns amigos do meio musical para gravarem suas obras inéditas
O cantor e compositor explica como foi o processo de produção de “Rubens Lisboa Por Tantas Vozes”
Sou um cidadão paulistano apaixonado pelo Rio de Janeiro, e é de lá que chegou em forma de presente uma caixinha de CDs do cantor
Obra de Rubens Lisboa ganha 45 vozes
GREVE DE SAMBA
Por Ana Costa
Se a cidade não tem mais pra onde expandir
Dá agonia de ver toda a aglomeração
É barraco de cima querendo cair
É barraco de baixo em promessa e oração
Esse tanto de gente merece respeito
São mulheres e homens sonhando um amanhã
Igualzinho a nós outros, o mesmo direito
Vão correndo por fora numa vida malsã
Avisa lá que hoje não tem samba
É greve
Muito grave a situação
Por que só é no carnaval que os chamam de bamba
E o resto do ano inteiro vivem na omissão
Avisa lá que hoje não tem samba
É greve
Vai chamar a multidão
Se no carnaval todos dizem: são bons pra caramba
Não é justo os alimentarmos de inanição
Mães-de-santo, passistas, porta-bandeiras
Todas elas são brasileiras
E merecem nossa atenção
Mestre-salas, ritmistas e curandeiros
Todos eles são brasileiros
Cada qual é um cidadão
FOLIAR
Por Vânia Bastos
Olha o coco oco louco
No batuque da levada
Limpa o pé lá na entrada da brincadeira
Quebra o ovo povo novo
Na cabeça da moçada
Que é pra ver se a passada sai de primeira
A alegria é a prova
Noves fora o coração
Canta bem muito mais forte o refrão
Sai da frente que eu tô indo
Vou levando a sensação
Com vontade se consegue, meu irmão
O momento faz a hora
Agora dá pra se esbaldar
Vamos levantar poeira
Que é sexta-feira
Dia de brincar
A mistura tá fervendo
Não dá mais pra segurar
Sopra o vento na areia
Samba de pareia
Bom de foliar
A MAQUIAGEM DA HISTÓRIA
Por Antonio Villeroy
Quantos são os exércitos a mutilar soldados?
Quantos são os presos a incendiar colchões?
Quantos são os amores que matam os amados?
Quantos são os chefes que vendem as nações?
Até quando o medo vai travar as mentes?
Até quando a fome vai calar a voz?
Até quando o impulso vai fazer doentes?
Até quando a lei vai defender o algoz?
História
Escória que maquiada vira trajetória
E a glória é contraditória em todo lugar
História
Memória se muito puxa fica inibitória
E a vitória é uma moratória a se pagar
POEMA
Por Eliana Printes
Estrela
O teu brilhar não me admira
Se queres, vou contemplar-te num outro alguém
Quem dera
Óh! A doce espera fosse o porém
De um fio de voz que vai na imensidão
Estrela
Quantas dores trazes no peito
Por jeito, tu incendiavas uma emoção
Se foste, talvez viesses
Jogaste luzes na escuridão
E eu só a me encantar de paixão
Doce acalanto
Porque outrora lá da rua
Saíste embora, deixando-a nua com teu clarão
Eu busco sempre te encontrar, ó minha bela
Quem sabe floras, deixando a rosa com o seu botão
Decerto, toda dengosa na Lua clara
Tu deixarias que eu te amasse com devoção
Agora, te faço tolo este poema que algema
Minh’alma ao teu alado coração
Agora, te faço tolo este poema que algema
Minh’alma ao teu alado coração
NÃO ME LEVE A MAL
Por Edu Krieger
Vou encher a cara, vou cair de tonto
Vou levar você pra esse Carnaval
Vou fazer valer desejo tão antigo
Um sonho de criança
Não me leve a mal
Você vai se achar dentro do meu peito
Vai ficar sem jeito e vai me namorar
Hoje a festa é nossa e a gente se abraça
No meio dessa praça
E por que não se amar?
Carnaval só termina se acabar a alegria
E ela vai vingar
Seja eterno o mundo
Em um segundo
Quero a noite inteira sem cansar
EU NO MUNDO
Por Amelinha
Salve o cantar da moçada!
Salve o talento primeiro!
Salve essa gente animada!
Salve esse clima festeiro!
Salve a lua iluminada!
Salve o santo padroeiro!
Salve nossa pátria amada!
Salve o povo brasileiro!
Caminhei mais de mil léguas
Tomei chuva e serração
Passeei por muitas terras
Fiz novena e salgação
Me ceguei com tanta luz
E venci a solidão
Eu nada tinha na algibeira
Mas estava cheio o coração
Salve o cantar da moçada!
Salve o talento primeiro!
Salve essa gente animada!
Salve esse clima festeiro!
Salve a lua iluminada!
Salve o santo padroeiro!
Salve nossa pátria amada!
Salve o povo brasileiro!
Fiz a rede na varanda
E mirei a imensidão
Naveguei na correnteza
Conheci mar e sertão
Me encontrei no meio do tempo
Duelei com a paixão
Eu nada tinha na algibeira
Mas estava cheio o coração
Foi com vontade que eu caí no mundo
A gente cresce só indo fundo
A vida é bela
Há que saber
E eu tenho muito o que aprender
DIGITAIS
Por Rita Ribeiro
Madrigais
São canções que percorrem os caminhos dos quintais
Meus sinais, meus desvãos
Meus sins, meus nãos
Minhas digitais
Os meus ais
São senões que adentram os atalhos dos umbrais
Vendavais, artesãos
Meus sons, meus dons
Minhas catedrais
Em tudo há um pouco do que sou
Na minha lágrima, no meu suor
No filho que eu fiz
No meu bom, no meu pior
Em tudo há um pouco do que sou
Nos meus escritos, na minha voz
Na rosa que eu plantei
No que enfim vai dar em nós
A COBRA
Por Fênix
Não acorde a cobra adormecida
‘Cê não tem cacife para enfrentá-la
Não acorde a cobra adormecida
Deixe-a dormindo dentro da mala
Essa cobra é venenosa
Essa cobra é perigosa
E ela pode lhe picar
E ela pode lhe furar
Acorda
A cobra
Se eu fosse você não ia mexer com esse bicho, não!
Acorda
A cobra
Se eu fosse você não ia mexer com esse bicho, não!
Você vai ficar com febre
Você vai ficar alegre
E depois não vai querer sarar
E depois não vai querer largar
Acorda
A cobra
Se eu fosse você não ia mexer com esse bicho, não!
Acorda
A cobra
Se eu fosse você não ia mexer com esse bicho, não!
DEFEITO DE NASCENÇA
Por Cris Aflalo
Escorreguei, sim!
Não vou mentir
Se eu cair de novo
Você me ajuda a levantar
Não sou perfeito
Mas dá-se um jeito
Para seu proveito
Vou querer (me) endireitar
Não tenho culpa se nasci lá na gandaia
Não é desculpa nem quero fugir da raia
Abençoado
Sei que sou um boa pinta
Não me renegue
Nem tampouco me desminta
Escorreguei, sim!
Não vou mentir
Se eu cair de novo
Você me ajuda a levantar
Não sou perfeito
Mas dá-se um jeito
Para seu proveito
Vou querer (me) endireitar
É que eu trago um defeito de nascença
Quero afago, sei que tenho uma doença
De ser amado
Eu preciso de carinho
Venha cá, me pegue
Não posso ficar sozinho
DIZEM
Por Izabel Padovani
Dizem que a vida é curta
E que o amor é muito estranho
Dizem que a morte é certa
E a bondade é um ganho
Dizem que a justiça é cega
E que o tempo apaga tudo
Dizem que a paixão é brega
E o diabo é chifrudo
Tanta coisa que se ouve pelo dito popular
Mas a lenda vira fato E se faz acreditar
Tanta coisa sendo dita fruto da imaginação
Mas o fato vira lenda
Exagero sem perdão
Língua, arcabouço dos seres
E de loucos quereres
Guardiã do saber
Língua, armazém de curares
Nos tempos e lugares
Perpetua o dizer
Dizem que a chuva lava
E que a moda é passageira
Dizem que a polícia leva
E é melhor não dar bandeira
Dizem que a saudade mata
E que a cama faz o mito
Dizem que a memória é ingrata
E o do outro é mais bonito
Tanta coisa que se ouve pelo dito popular
Mas a lenda vira fato
E se faz acreditar
Tanta coisa sendo dita fruto da imaginação
Mas o fato vira lenda
Exagero sem perdão
Língua, arcabouço dos seres
E de loucos quereres
Guardiã do saber
Língua, armazém de curares
Nos tempos e lugares
Perpetua o dizer
E que o tempo apaga tudo
Dizem que a paixão é brega
E o diabo é chifrudo
Tanta coisa que se ouve pelo dito popular
Mas a lenda vira fato
E se faz acreditar
Tanta coisa sendo dita fruto da imaginação
Mas o fato vira lenda
Exagero sem perdão
Língua, arcabouço dos seres
E de loucos quereres
Guardiã do saber
Língua, armazém de curares
Nos tempos e lugares
Perpetua o dizer
Dizem que a chuva lava
E que a moda é passageira
Dizem que a polícia leva
E é melhor não dar bandeira
Dizem que a saudade mata
E que a cama faz o mito
Dizem que a memória é ingrata
E o do outro é mais bonito
Tanta coisa que se ouve pelo dito popular
Mas a lenda vira fato
E se faz acreditar
Tanta coisa sendo dita fruto da imaginação
Mas o fato vira lenda
Exagero sem perdão
Língua, arcabouço dos seres
E de loucos quereres
Guardiã do saber
Língua, armazém de curares
Nos tempos e lugares
Perpetua o dizer
SEM MALANDRAGEM
Por Wado
Tá de brincadeira comigo, meu bem?
Você tá de sacanagem
Fale sério ao menos uma vez que faz bem
Não aceito malandragem
Eu vou acertar sua rota
Você vai se endireitar
Não dá pra viver à margem
Só de vadiagem
Só de esculhambar
Tá de brincadeira comigo, meu bem?
Você tá de sacanagem
Fale sério ao menos uma vez que faz bem
Não aceito malandragem
Não entro mais em lorota
Agora vou lhe enquadrar
Delete a choradeira
Deixe de besteira
Deixe de lombrar
CAJU
Por Selma Gillet
Estamos aí
Levando porrada na cara
Catando os cacos de vidro
Minguando e querendo o luar
Estamos aí
Um bando de desinibidos
Buscando aplausos, gemidos
Dançando e querendo o luar
O poeta está por aí
O poeta não pode parar
O poeta tem mais que parir
Grito forte jogado no ar
Nosso tempo então há de vir
E esse tempo não pode parar
Nesse tempo têm mais que surgir
Mil cajus pr’o amor vir cantar
Estamos aí
Tentando aprender a ser gente
Sangrando esse mundo doente
Rasgando cordões umbilicais
Estamos aí
Palhaços, mendigos e fadas
Em meio a cartas marcadas
Nos bares e nas catedrais
Acorda, menino
Deixa o medo bobo
Corre pra vida, vem
Desperta desse sonho
Que o boi da cuca preta
Não pega mais neném
DIFERENTE
Por Silvia Machete
Tudo o que eu quero mesmo, vou atrás
Nada que me vem tão fácil satisfaz
Muito para mim é pouco e eu quero é mais
Se você vier comigo, vai ser demais
E se o mal no mundo agora é o egoísmo
Disso eu tô fora, detesto cinismo
Se eu vim pra vida foi mais pra brincar, pular, gozar, cantar
Por isso, faço o meu momento e vou seguindo em frente
Muita gente me acha um tanto diferente
Mas é que as escolhas vão me alimentar, curar, salvar, guardar
Bote fora
Tudo o que não presta
Jogue fora
O que não vale a pena
Mande embora
O melhor da vida é brincar, pular, gozar, cantar
Bote fora
Tudo o que não presta
Jogue fora
O que não vale a pena
Mande embora
Suas escolhas vão alimentar, curar, salvar, guardar
VIAGEM ARRETADA
Por Jarbas Mariz
A gente sabe que não é mais nenhum menino
Que já não tem tanto tempo pra correr
Atrás de bola, de mulher e de birita
Até a pança tá ficando esquisita
A gente sabe que não é mais nenhum menino
Que já não tem tanto tempo pra perder
Com ‘brigaiada’, chororô e parasita
Não adianta mais ficar fazendo fita
Muito tenho pra contar
Eu aprontei, desafiei, fui valentão
Botei na mala o verbo amar
Mas derrapei nas quebradas do sertão
Agora vou desabafar
E por favor não atropele o meu baião
Esse baião que vem do fundo do querer
Que sai do peito como chuva de verão
E se quiser me escutar
Vai aprender que o tempo passa num senão
A gente corre, voa, luta, segue atrás
E o menino se perdeu na imensidão
Êta que a viagem é arretada
Êta, nem vai ter pra descansar
Êta, tô aqui só de passagem
Não me iludo porque sei onde vai dar
Êta que a saudade é bonita
Êta, não me canso de cantar
Êta, vejo tudo feito um filme
Que eu assisto e ao mesmo tempo estou lá
MEU CHORO
Por Ná Ozzetti
Um choro alegre só se faz com cavaquinho
Com o som da flauta
Com sol no pinho
Um choro alegre só se faz com emoção
E é por você que escrevo agora esta canção
E muito eu peno, me descabelo
Tô me sentindo feito São Sebastião
Vida separa, o amor é elo
Você nem para pra pensar na situação
Dê liberdade a um pobre passarinho
Que verga alto, geme baixinho
Só esse choro me ameniza a solidão
Por isso eu canto, meu coração
(Quem sabe achei a solução?...)
O UM
Por Carlos Navas
Cuidado pra não se entregar na primeira derrota
O mundo é bom
Vale insistir
O que mais existe é gente com muita lorota
Abaixe o tom
Tente me ouvir
Você tem que dar de novo uma chance
Bondade sempre esteve ao seu alcance
Aquilo que doeu dá pra esquecer
Só depende de você
É melhor recomeçar
Olhe aí, vamos lá!
Às vezes é melhor voltar atrás
Para o coração ter paz
E aprender o que é amar
Não, não faz mal
Esse papo não é para ser mais um
É o um
Não, não faz igual
Vá sabendo que sempre é tempo de se tocar
A razão é um ponto de vista
Só ganha aquele que arrisca
E o jogo ainda vai dar o que falar
Você pode achar o coringa
Mas saiba que perde quem vinga
Então o melhor a fazer é perdoar
NÃO VALE A PENA
Por Rogéria Holtz
A carne é fraca, sim...
Mas pra que a fortaleza?
“Na hora do sexo o que importa é o amor” - o amor!
Mas não me venha enumerar motivos
Expor demorada reflexão
Palavras que vêm
Palavras que vão
Palavras não selam o destino cruel de uma paixão
A carne é fraca, sim...
Mas pra que a fortaleza?
“Na hora do sexo o que importa é o amor” - o amor!
Mas não me traga papos furados
Nem inconsequente explicação
Palavras que vêm
Palavras que vão
Palavras não mudam o rumo certeiro da solidão
Não vou mais ouvir
Não vou mais quedar
Não vou mais deixar que eu desvie da rota que quero
Não vale a pena
Não vou mais sentir
Não vou mais voltar
Na hora que eu quis, você me esnobou
Agora não quero, você me envenena
Passou o seu tempo pra ter meu amor
Saia de cena
‘Cê me envenena
Não vale a pena
FELICIDADE
Por Kleber Albuquerque
Pra ser feliz não é preciso muita coisa
Basta apenas ter aberto o coração
Passear pela vida bem de leve
Dar valor tão somente ao que deve
Fazer festa pra brotar a emoção
Pra ser feliz não é preciso muita grana
Nem se deitar com metade da nação
Não adianta se levar muito a sério
Não tem segredo nem mistério
Felicidade é opção
Pra que se perder emburrado
E sofrendo um bocado
Em nada vai melhorar
O preto e branco pode ser colorido
É só achar o sentido
Mudar o ângulo do olhar
É de se inebriar com o vento
É de se entorpecer com o mar
É saber que toda estrada tem curva
E o bom é poder contornar
É de se embriagar com a chuva
É de se entontecer com o luar
É um caminho que vem lá de dentro
E que vale muito a pena buscar / E que vale a pena encontrar
DRUMMONDIANA
Por Fabiana Cozza
Tinha uma pedra no meio do meu caminho
Tinha uma pedra no meio do meu caminho
Eu poderia voltar atrás
Ou escolher outras mil estradas
Mas resolvi chutar a pedra e seguir sozinho
Tinha uma pedra no meio do meu caminho
Tinha uma pedra no meio do meu caminho
Não estariam a enxergar demais
Minhas retinas tão fatigadas
Quando optei por seguir viagem qual passarinho
Não foi a primeira que me apareceu na vida
Decerto também não vai ser a derradeira
O importante é estar preparado
Pedras existem por todo lado
E sendo esperto dá pra levá-las na brincadeira
É importante não ser açodado
Nem tudo é como o ansiado
Com coragem dá pra livrá-las de baleadeira
CANTO PRA JUREMA
Por Vange Milliet
Quando eu tava na ladeira
Namorando numa boa
Vez em quando alguém gritava
Que eu era assim à toa
Pode falar que eu não ligo
Quero mais é ser feliz
Minha história eu que faço
E cada qual com seu nariz
Ê, quem tem medo de cara feia?
É para os lados de lá
Ê, quem não pode enfrentar, arreia
Eu que não vou me entregar
Fim do mês já tá chegando
Minhas contas eu que pago
Quem não gosta, mude a rota
Pra não ver o meu afago
Deve ser a tal da inveja
Que ainda mata essa gente
Esse povo não suporta
Em me ver assim contente
Ê, quem tem medo de cara feia?
É para os lados de lá
Ê, quem não pode enfrentar, arreia
Eu que não vou me entregar
Na ladeira, à toa
- Jurema, deixa a vida levar!
Sou bem mais feliz
- Jurema, deixa a vida levar!
Minha história é boa
- Jurema, deixa a vida levar!
Mando em meu nariz
Minhas contas pago
- Jurema!
Pra dó dessa gente
Amo um afago
- Jurema!
Vivo bem contente
SETE ONDAS
Por Zé Renato
Sete ondas pra pular, Sinhazinha
Sete vidas pra gozar, ô
Sete vezes namorar lá na cozinha
Sete doces pra engordar
Sete histórias pra contar, Senhorinha
Sete pecados pra tentar, ô
Sete sementes a brotar na sua vinha
Sete mentiras pra montar
Dá-lhe amor
Cadê o amor?
Tá lá no mar!
Me traz o amor
Diz que é uma flor
Pra me enganar...
Lá na mata o sabiá só gorjeia
Quando a Lua vem brincar, ô
Lá na mata o sabiá só gorjeia
Quando a Lua vem brincar
CARRAPATO
Por Elza Soares
Larga do meu pé, carrapato
Vê se desencarna, seu ingrato
Que eu não vou mais ouvir tua ladainha
Sai daqui, me deixa no ato
Vai pra lá, rasguei nosso trato
Que eu agora já não tô mais sozinha
Valorizei o meu passe
Joguei o meu charme e aí rolou
- Se rolou!
Não vou mais cair no teu embace
O desenlace
É que teu tempo acabou
Quem sabe ainda achas uma bisca
Pra te dar casa e comida e algum amor
Mas risque o meu nome da tua lista
Porque pra mim o que passou, passou
Amor
Não vai adiantar
Amor
Põe outra em meu lugar
Amor
O teu disco tá arranhado
Trata de mudar
Quem sabe até trocar de lado
Eu tô numa boa
Tua insistência é um enfado
Amor
Não vai adiantar
Amor
Pus outro em teu lugar
Amor
Vê se enfim cai na real
Para de implicar
Até que eu não te quero mal
Parte numa boa
E me deixe aqui legal
Larga do meu pé, carrapato!
QUASE BREGA
Sabe o que eu descobri quando te encontrei?
Que existe um lado brega em mim que agora eu sei
E já não tenho mais vergonha
Meu eu quer que eu me exponha
E assim vou mergulhando fundo na emoção
O teu amor me fez viver um sonho tão bonito
E agora eu posso ter as coisas que eu acredito
Mais vale é o sentimento
E eu quero todo esse momento
Pra abrir de vez as portas loucas do meu coração
Vida, hoje não sou mais sozinho
Pois tenho comigo o teu carinho
Nunca que pensei em te encontrar
Mas no encanto desse olhar
Vejo agora o meu crescer
Falem, digam, berrem, nada ouço
Saiba que me sinto até mais moço
Os outros não importam pra nós dois
Não tem antes nem depois
Tu me deste o renascer
Amor, pode o mundo se acabar
Mas se tu comigo estás
Tô feliz feito um menino
Ouça e entenda este recado:
Tua entrada em minha vida
Estava escrita em meu destino
MOLEZA
Por Eugenio Dale
Não venha pra cima de mim com essa moleza
Não pense que ainda me engana com sua beleza
Eu hoje quero mais
Cansei de ser quem corre atrás
Pretendo apenas lhe manter a vista
Faz tempo que eu sempre tento ser sua presa
Mas nunca que nessa história ‘cê vira a mesa
Eu hoje quero mais
Cansei de ser o bom rapaz
É hora de ficar fora da pista
Eu gosto mesmo é do escondido
Pode de vez me achar perdido
Que eu não vou me envergonhar
Eu gosto é de correr perigo
E que me colem no umbigo
Pra ver no fim aonde vai dar
Não venha pra cima de mim com essa moleza
Não pense que não me tenta com sua beleza
Mas hoje quero mais
Cansei de ser quem corre atrás
É hora de ficar fora da pista
Eu curto mesmo é o extravagante
Abuse deste doido amante
Que eu tô aqui pra me entregar
Eu topo até um bom fetiche
E se quiser então me piche
Pra ver no fim aonde vai dar
Engate essa primeira
Que eu tô de bobeira e vou provar
De tudo o que essa vida tem de bom pra mostrar
Agora, deixe de besteira
Que eu fico no meu lugar
Caio na brincadeira onde sempre quis estar
Eu curto mesmo é o extravagante
Abuse deste doido amante
Que eu tô aqui pra me entregar
Eu gosto mesmo é do escondido
Pode de vez me achar perdido
Que eu não vou me envergonhar (me envergonhar, jamais)
NA BOA
Por Tetê Espíndola
Eu quero um amor leve
Que quando pise em mim, não doa
Quero um amor canoa
Que me leve pro mar
Na boa
Quero amar a pessoa
Que mora em meu sonho
E voa
Me faz sentir na pele
O canto do ar que o vento
Entoa
Enquanto puder querer, eu vou tentar
Decerto que com você dá pra aguentar
Seu riso me dá prazer, me faz gozar
Como é bom saber viver e levitar
NOVES FORA
Por Grupo Arranco de Varsóvia
O que pra você é grife
Para mim é enrolação
O que diz amor eterno
Para mim foi só tesão
Noves fora as diferenças
Temos admiração
E o que vale é a certeza
De que ninguém tem razão
O que pra você é lindo
Pra mim é remediado
Onde vê o suprassumo
Pra mim é um pobre coitado
Noves fora as diferenças
Desdizemos o ditado
É pior ficar sozinho
Do que mal acompanhado
Se um não quer
Não há como obrigar
Mas se quiser
Sempre dá pra ajeitar
Tá tudo bem
É melhor deixar pra lá
E ficar zen
Mesmo se não concordar
O que pra você é fácil
Para mim é bem complexo
O que acha que é côncavo
Para mim só dá convexo
Noves fora as diferenças
Tudo pode ter um nexo
E antes que fique com raiva
Aqui vai o meu amplexo
Se um não quer
Não há como obrigar
Mas se quiser
Sempre dá pra ajeitar
Tá tudo bem
É melhor deixar pra lá
E ficar zen
Mesmo se não concordar
INCENDIADO
Por Mariana Baltar
Ô gente fina, não se zangue nem se afobe
Agora é a hora de o cabrito vir berrar
A cara é dura e o coco é mole, não me enrole
Chegou o tempo: a jurupoca vai piar
Moleque doido, tenha calma, use a mente
Só vai pra frente quem conhece o caminhar
Não se incomode com meu jeito incendiado
Um dá de lado, outro não dá pra segurar
Áh, meu!
Tanto que eu te pintei de santo
E o limbo é fato
Acaso do lumiar
Afaguei o meu ego cego
Mas nego agora o fora
Que tu me ‘deu’ de amar
Arre diacho, que cantiga esquisita
Seja bendito e bem cantado este cantar
A sina é prosa, espinho e rosa, atrevida
Eu tô com a vida e não me canso de aprontar
Áh, meu!
Tanto que eu te pintei de santo
E o limbo é fato
Acaso do lumiar
Afaguei o meu ego cego
Mas nego agora o fora
Que tu me ‘deu’ de amar
BAGACEIRA
Por Ortinho
Hoje eu vou sair na bagaceira
Vou me esbagaçar é com você
Não tenho certeza mais de nada
Tudo o que eu quero é só prazer
Troco o meu salário por um dia
Dessa alegria de viver
Mas faço questão de tê-la ao lado
Pois só assim vale enlouquecer
Se a banda passa eu acho graça
Tenho certeza de que não é só cachaça
Mas fica bom quando você me abraça
E eu quero ver a gente se esbaldar
Se o povo fala, não tem problema
A euforia é que vai roubar a cena
Sei que minha alma não é pequena
E eu quero ver o mundo se acabar
Dar bandeira pra quê
Dar bandeira pra quê
Nossa bandeira é de paz
Sou muito mais eu e você
Dar bandeira pra quê
Dar bandeira pra quê
Nossa bandeira a gente faz
E ‘vale mais’ eu e você
O CENTRO
Por Tânia Bicalho
Tudo tem um centro
A Terra, o cérebro, a sua família
O fruto, a célula, a sala
As atenções e até a matilha
O poder e a disputa
As coisas que existem dentro
O prazer e a labuta
Tudo isso tem um centro
E no centro de cada coisa
O que será que há?
Magma, amor, matéria
Desejo de conquistar
Tesão, suor, história
E um jogo que faz buscar
O algo que é indizível
Mas não cansa de investir
No homem com a sua ideia
Que é o centro do existir
AMOR DE DOIS
Por Chico César
Quando eu me lembro da tua boca linda
Teu peito perto do meu coração
Me dá vontade de enfrentar o mundo
De ir mais fundo
E perder a razão
Me dá vontade de enfrentar o mundo
De ir mais fundo
E perder a razão
Quando eu lembro que já foste minha
E que agora deitas com um outro alguém
Eu me seguro pra não dar bandeira
Não fazer besteira
E ir mais além
Eu me torturo por ter te perdido
Não ter percebido
Que eras o meu bem
Amor de dois
E eu não sou um
Passou da hora
Tô em jejum
Amor de dois
Perdi o trem
Fiquei de fora
Feito xerém
CONSAGRAÇÃO
Por Eduarda Fadini
Não
O amor não pode mais esperar
O amor é feito de consagração
Não tem mais tempo
Não tem mais jeito
E se quiser vai ter que se dar
Não
O amor não pode mais esperar
O amor é feito de pura atenção
Não tem remendo
Não tem defeito
E se quiser vai ter que peitar
Tem olho de tudo que é lado olhando um bocado
E o povo a gretar
Tem boca de tudo que é jeito por puro despeito
Querendo brecar
Não
O amor não pode mais esperar
O amor é feito de consagração
Não tem mais tempo
Não tem mais jeito
E se quiser vai ter que se dar
Não tem remendo
Não tem defeito
E se quiser vai ter que peitar
Tem olho de tudo que é lado olhando um bocado
E o povo a gretar
Tem boca de tudo que é jeito por puro despeito
Querendo brecar
Ninguém manda em seu coração
Nem paga a sua prestação
Sua vida pertence a você
Então viva com muito prazer
Sua vida pertence a você
Então viva com muito prazer
O MEU AMOR
Por Selma Reis
Onde será que se esconde o meu amor
O meu amor se esconde
Onde
Onde encontrá-lo perdido
E trazê-lo meu vizinho
Será que me espera acordado
Longe
Será que espera por mim o meu amor
O meu amor me espera
Quando
Quando partir para longe
E voltar não mais sozinho
Quero dormir ao seu lado
Hoje
Rua
Encontrei-o à luz da lua
Veio calmo como a brisa
E veloz como a paixão
Certo
Galopando a céu aberto
De perfeito nem avisa
Se é real ou ilusão
O meu amor não se esconde mais de mim...
ARTERIAL
Por Verônica Ferriani
Ontem eu vi você no Jornal Nacional
Deu uma saudade tão grande
Que eu até passei mal
Acho que a pressão subiu
A tal da arterial
E eu fiquei assim tão tonta
Não bateu uma legal
Ai, amor
Dói ...
É demais a sua falta
Ai, amor
Rói...
Essa saudade maltrata
Ai, amor
Dói ...
É demais a sua falta
Ai, amor
Rói...
Essa saudade me mata
Hoje eu sei que a vida nos teceu sem igual
Mas que custou um bocado
Pra eu entrar na real
Se a Terra é mesmo redonda
Vou girar no final
Zonza, cair em seus braços
Pra voltar ao normal
ATREVIDO E CURIOSO
Por Daniel Gonzaga
Ainda bem que eu sou moleque atrevido
E nunca durmo sem discutir a razão
De tudo um pouco eu aprendo, eu duvido
Corro atrás, fuço e decido
Nunca que eu desisto, não!
Ainda bem que eu sou moleque curioso
E não me aquieto sem achar a solução
Tanto mistério no mundo maravilhoso
Me deixa sempre mais teimoso
Nunca que eu desisto, não!
Ainda bem que eu tenho uma vida inteira
Pra conquistar o coração dessa mulher
Parece até que é uma coisa assim certeira
Mas saiba ao certo é brabeira
Não é para qualquer Zé
Ai, ai, ai, ai
Quem dera fosse bem mais doce o caminhar
Ai, ai, ai, ai
Mas fosse doce eu bem podia enjoar
Ai, ai, ai, ai
Quem dera fosse bem mais fácil ela querer
Ai, ai, ai, ai
Mas fosse fácil eu não iria conhecer
REPLAY
Por Anna Ratto
Quando sigo seu rastro
E nunca lhe encontro, dói
Não sei o que fazer
Com essa coisa que me corrói
É ciúme, é desejo, é vingança
É muito mais
Não sei o que fazer
Com essa coisa que ‘cê me faz
Ai, ai, ai
Apague esse fogo de amor que me pegou
E é tanto que já não cabe em mim
Não posso continuar assim
Quem sabe um replay resolve tudo
E o tempo sossega esse nosso coração
Arrisca nova tentativa com jeitinho
Pra chegar no amor sem queimar essa paixão
Por Anna Ratto
CONECTADO
Por Rodrigo Bittencourt
Agora a moda é ficar o tempo todo
Conectado, conectado, conectado
Agora a moda é ficar o tempo todo
Interligado, interligado, interligado
Agora a moda é cada um na sua
Com a galera cada vez mais nua
Montar um grupo de pagode
Vender o corpo pra aparecer
Agora a moda é chamar o ibama
Ser BBB pra ganhar a fama
Xingar o mundo pra dizer que pode
Sei lá o quê
Agora a moda é ficar o tempo todo
Conectado, conectado, conectado
Agora a moda é ficar o tempo todo
Extasiado, extasiado, extasiado
Agora a moda é ser corneado
Falar que é amigo o namorado
E beijar muito na micareta
Malhar de boa até explodir
Agora a moda é pôr silicone
E alugar um otário para ser seu clone
Matricular-se em curso de etiqueta
E se exibir
Agora a moda é ter tatuagem
Fazer de tudo pra levar vantagem
Assumir que é GLS
Pagar chapinha para alisar
Agora a moda é ser naturista
Posar de i-pod em capa de revista
Admitir que sofre de estresse
E faturar
CADA
Por Ithamara Koorax
Cada ouvido ouve o que quer
Cada boca fala o que bem quiser
Cada sentido remete ao desejo
Cada verdade se esvai com um beijo
Cada paixão assumida é assombro
Cada história traz mero escombro
Cada pessoa reflete o seu mundo
Pra cada mudança só basta um segundo
Eu bem falei
Não adianta engessar
Por que você não entende
É livre o pensar
Eu bem falei
Por isso é bom respeitar
Cada um faz
O que a consciência mandar
PROMESSAS
Por Alaíde Costa
Nossos sonhos são promessas
Que nos fazem levitar
Nesses dias tão de pressa
Se permita acreditar
Nossos sonhos são só nossos
Ninguém os terá por nós
Faça deles instrumento
Como o cantor, sua voz
Tente com vontade
Lute e em breve vai ver
Que o seu desejo
Urge e já irá acontecer
A adversidade
Surge que é pra se aprender
Que nada é fácil
Mas dá pra vencer
Invista
Insista
Não corra
Repare
Siga
Persiga
Não morra
Nem pare
CANÇÃO DE AMOR
Por Di Mostacatto
Estão rareando as estrelas
É o dia que chega
E você não me vem
Onde encontrarei a beleza
Que não vejo em mais ninguém
Eu lhe espero em todo cais
Trago paz no coração
Aguardo inteiro e incansável o amor
Que vai curar minha solidão
Canção de amor
O vento traz
Alegre ou triste
Não se desfaz
Canção de amor
Ouço os sinais
Você existe
E é bom demais
O NEGÓCIO É SÉRIO
Por Marcia Castro
Se você contar que vai, eu admito
Se você então não for, eu dou um grito
Se você bombar, amor, aí eu agito
Mas se mandar um talvez, fica esquisito
Se você falar que quer, está bem dito
Se você achar que é, já me habilito
Se você jurar, amor, eu deixo escrito
Mas se voltar atrás, saiba que lhe frito
Soa boazinha até quando baixa o “esprito”
Mudo de tom na hora se eu me irrito
Por isso mesmo é bom não contrariar
Senão o caldo aqui pode entornar
Dá beijinho, meu bem, que passa
Só assim é que eu sossego
Pode até parecer trapaça
Mas eu juro: o negócio é sério
SEXO
Por Zéu Britto
Pra bancar o bom
Diz que só com amor
Pra bancar a boa
Diz que só com você
Eu que já vivi de tudo com ardor
Falo
O que importa mesmo é o fazer
É claro que com amor é bem melhor
Mas sexo é bom de qualquer maneira
Seja acompanhado, seja só
No elevador, no carro ou na ladeira
Vamos derramar nossa ousadia
Ninguém vive neste mundo sem chamego
Nem louco se proíbe esta alegria
Sexo é o segredo do sossego
Encaixa e deixa
Estamos aqui de bobeira
Relaxa e goza
E vamos ter prazer a vida inteira
GOLPE DE SORTE
Por Clarice Magalhães
E aí, eu sei
Foi um golpe de sorte
Ganhar o passaporte
Diretinho pro seu coração
Custou um bocado
Mas se foi o dia
Em que essa Maria
Se bastava somente com o pão
Hoje exijo mais
Também quero a cama
Pois eu sou a dama
Que você escolheu para amar
É, não tem mais jeito
Sou seu par perfeito
Já moro em seu peito
E cheguei aqui pra ficar
É, não tem mais jeito
Sou seu par perfeito
Já moro em seu peito
E cheguei aqui pra ficar
Ai, meu rei
O destino escreveu a lei
E o carinho que eu tinha, dei
Guarde com bem devoção
Jesus, valei
Após tudo o que eu passei
O moreno que ora encontrei
Vale mais do que um milhão
SONHAR NÃO CUSTA NADA
Por Ana Salvagni
Desde pequeno a gente ouve tanta coisa
Que todo rio sempre corre para o mar
Que a formiga é quem trabalha
E a cigarra se espalha
Que o homem deve ser direito
E respeitar
E agora adulto vejo o quanto há pra fazer
Toco viola que é pra ter o de comer
O mundo é grande e o desejo até se perde na imensidão
Mas aprendi que é sempre bom ter os pés no chão
Sonhar, é vero, não custa nada
A meta de cada um é ser feliz
Não dá pra ter medo de alma penada
Enquanto o “sabido” compra o juiz
Sonhar, é vero, não custa nada
No entanto, só com labuta é que se vence
E embora seja enorme a estrada
O nosso destino a Deus pertence
TRALHA
Por Fred Martins
Veja só como estou
Foi você que deixou
Minha cuca em torpor
Me abalou
Veja como eu fiquei
Com você eu pirei
Acho que eu já sei
Dispensei
Quem me mandou tomar a sopa
Pôr a chaleira pra ferver
Por que você tirou a roupa
E desligou minha TV
Já ouviu falar em simancol
Não tem ideia de espaço
Recolhe aquele guarda-sol
Devolve a régua e o compasso
Ora, vá caindo fora
Tenho mais o que fazer
Não vou sair de otário
Marquei no calendário seu dia de escafeder
Ora, vá caindo fora
Demorei pra entender
Que já passou do horário
Pegue a tralha no armário e me livre de você
Veja só como estou
Foi você que deixou
Minha cuca em torpor
Me abalou
Veja como eu fiquei
Com você eu pirei
Acho que eu já sei
Dispensei
Tá me deixando muito insano
Eu que demoro a esquentar
Não aguento mais nem um minuto
Quero de volta o meu lugar
Você é muito impertinente
Devia era já ter se tocado
Preciso de paz daqui pra frente
Espero que entenda o meu recado
Ora, vá caindo fora
Tenho mais o que fazer
Não vou sair de otário
Marquei no calendário seu dia de escafeder
Ora, vá caindo fora
Demorei pra entender
Que já passou do horário
Pegue a tralha no armário e me livre de você
Afoxé, baião, blues, choro, ciranda, coco, fado, frevo, samba e xote são alguns ritmos do cancioneiro de Rubens Lisboa, natural de Aracaju (SE), ainda longe demais das capitais e do reconhecimento nacional a que faz jus pela qualidade dessa obra.
MAURO FERREIRA (jornalista e crítico musical)
Depois de três CD’s que me deram muitas alegrias, mas que foram eminentemente trabalhos de banda, resolvi que estava na hora de fechar um ciclo – minha primeira trilogia – e partir para um disco no qual as canções se impusessem por si próprias, assumindo o foco principal.
Há tempos que venho pensando em fazer um álbum assim. Foi preciso, no entanto, um amadurecimento maior (tanto do artista quanto do ser humano) para que tivesse a certeza de que chegou a hora. Ancorado por um trio de músicos de ponta da música sergipana, pude passear tranquilo pela pluralidade de ritmos, característica de minha obra e da qual não abro mão. Não dá para explicitar em palavras a minha felicidade com o resultado.
Cada faixa traz um conceito particular que, no todo, termina por se irmanar de forma completa. Daí, o título “Arteiro” que, no finalzinho do segundo tempo, me foi soprado aos ouvidos pelos deuses da música quando tudo indicava um movimento à contramão.
São quatorze faixas, todas de minha autoria, que – como não poderia deixar de ser – dizem muito de mim.
Desta forma, entrego-me inteiro, mais uma vez, cônscio de que minha arte, além de emocionar e entreter, também tem a difícil porém necessária e instransponível missão de questionar.
Com um cheiro doce de âmbar,
Rubens Lisboa
Para todas as pessoas verdadeiramente talentosas e, em especial, para Carlos Navas e Ithamara Koorax, ídolos e amigos de fé.
Ficha TécnicaProdução e Arranjos: SAULO FERREIRA Co-produção: RUBENS LISBOA Backings Vocais: ADRIANA PEREIRA, NURIMAR PEREIRA e TIAGO COSTA Gravação e Mixagem: ESTÚDIO CAPITANIA DO SOM (ARACAJU/SE) Técnico de Gravação e Mixagem: ALEX SOUZA Masterização: ESTÚDIO MAGIC MASTER (RIO DE JANEIRO/RJ) Técnico de Masterização: RICARDO GARCIA Direção de Arte / Projeto Gráfico: TEASER PROPAGANDA (ARACAJU/SE) Ilustrações: GUSTAVO SAGUZERA
Quarto CD do compositor sergipano apresenta leque variado de ritmos
Lisboa vai do samba ao blues no álbum 'Arteiro'
CHAMEGO
Rubens Lisboa
Segura embaixo, cutuco por cima
A onda vai te pegar
Não sou um Gianechini, mas eu sei que vais gostar
A água é mole, a pedra é dura
E um dia há de furar
Desejo não cessa e eu sempre tô nessa
Doidinho pra te agarrar
Segura embaixo, cutuco por cima
A onda vai te pegar
Não sou um Brad Pitt, mas eu sei: vou te ganhar
A água é mole, a pedra é dura
E um dia hei de furar
Desejo não cessa e eu sempre tô nessa
Prontinho pra te amassar
Vem pra cá, Sá Menina
Que um chamego assim é de endoidar
Chega mais, Carolina
O encanto da vida é aproveitar
Vem pra cá, Sá Menina
Que um chamego assim é de babar
Chega mais, Carolina
Maravilha, o problema é viciar
O que era, já foi
Se era, já foi
Quem era saiu da linha
O que era, já foi
Se era, já foi
Quem era veio brincar
O que era, já foi
Se era, já foi
Quem era entrou na minha
O que era, já foi
Se era, já foi
Quem era veio amar
CORAÇÃO TAMBOR
Rubens Lisboa
Bate coração, bate com carinho
Bate no compasso do meu amor
Bate coração, sem pedir licença
Que a minha vida está a seu dispor
Bate coração, sem ter piedade
Que eu quero ouvir o som desse tambor
Meu coração é tão dengoso
Mas entra em desalinho sem eu perceber
Há que se ter cuidado com um bem tão precioso
Pois que com ele há sempre muito a aprender
Meu coração é tão teimoso
Mas sabe que o amor é a solução
Dispara quando percebe um olhar malicioso
Não dá mais pra segurar tanta pressão (não dá, não!)
Meu coração
Pulsa fagueiro
Se entrega inteiro
Fé e paixão
Meu coração
Segue certeiro
Se faz arteiro
Luz e canção
MINHA PRESA
Rubens Lisboa
Eu posso raspar meus cabelos
Pra ver se lhe chamo atenção
Me jogo aos seus pés de joelhos
Tem minha paixão
Há tempos que venho tentando
Parece até que não vê
O quanto tô enfeitiçado
Doido por você
Às vezes eu nem me conheço
Até me espanto de mim
É tanto meu desassossego
Não lembro ter sofrido assim
Dê-me ao menos uma chance
Pr’eu despertar o que sente
Tente ficar bem mais atenta
Pois então tudo vai ser diferente
Tenho esta certeza
Você é a princesa
De tantos contos
Digo com certeza
Você é minha presa
Entregue os pontos
UM A ZERO
Rubens Lisboa
Ela me diz pra eu ser sensato
É chato ser herói
Ela me manda ser adulto
Eu fico puto e dói
A coisa tá ficando feia e mais
Toda palavra incendeia e traz
Um clima ruim tipo gabola e dá
Desejo de ficar assim
De papo pro ar
Carinhoso
Eu sei que sou carinhoso
Eu sempre fui amoroso
Mas agora tô cansado
Magoado
Eu sei que tô magoado
Eu sempre dei meu recado
Mas agora tô nervoso
E com sono
Ela me diz pra eu ser um estouro
Mas louro e lindo é o fim
Ela me manda ir pra luta
Bebo cicuta e gim
Caio na dança, serpenteio e giro
Do lado avesso, entro no meio e tiro
Uma pomba da minha cartola e zás
Ela então dorme assim
De papo pro ás
FIM DO MUNDO
Rubens Lisboa
Lá no meio do fim do mundo
Mora uma bela menina
Me alucina, me malsina:
Não me deixa um só segundo
Bem no meio do fim do mundo
Mora uma linda senhora
Me deflora, me ignora:
Não me deixa um só segundo
Será que não me percebe
Ou não quer nem me notar
Será porque sou da plebe
E ela é rica de danar
Será que eu não a mereço
Qual o preço do seu olhar
Ou tem um coração de gesso
E aí não tem como entrar...
Lá no meio do fim do mundo
Mora uma bela menina
Me alucina, me malsina:
Não me deixa um só segundo
Bem no meio do fim do mundo
Mora uma linda senhora
Me deflora, me ignora:
Não me deixa um só segundo
Será que usa de despiste
Ou tem medo sem razão
Será se fizer um chiste
Eu roubo sua atenção
Será que eu a inventei
Criei na imaginação
Se foi, como eu farei
Para tê-la agora, então...
TALENTO SERIGY
Rubens Lisboa
Aqui nesta terra tanta gente se acha poeta
Aqui nesta terra tanta gente se faz de artista
Aqui nesta terra tanta gente se mostra profeta
Aqui nesta terra tanta gente se diz jornalista
É talento demais pra um Estado tão pequeno
Estado de espírito, cheio de presença
Nem sei como cabe
Só mesmo o Serigy pra explicar
Cacique sabe-tudo a segurar
Pra que não desabe
E a tal maldição
Não,
Não tem, não
O que tem é muita gente
Precisando de noção!
- Triste Sergipe...
SEREIA BELA
Rubens Lisboa
Lá den’do do mar
Mora uma sereia
Que é metade peixe
Que é metade gente
E não sabe amar
Tanta beleza gerava um feitiço
Mas disso nunca tinha consciência
Aonde fosse, causava ouriço
E a culpa era de sua aparência
Metade peixe ria encabulada
Metade gente exalava tesão
Ninguém sabia que a sereia bela
Era fantasia, alucinação
Lá den’do do mar
Mora uma sereia
Que é metade peixe
Que é metade gente
E não sabe amar
Até Netuno se chegava a ela
Todo galante, bobo e sedutor
Também a via como cinderela
Sonho de consumo do rival Namor
Metade peixe ia pra bem longe
Metade gente não dava atenção
Ninguém sabia que a sereia bela
Era fantasia, alucinação
DOCE SALGADO
Rubens Lisboa
Mas quem foi que trouxe o doce?
Quem será que trouxe o doce?
Era o mistério pra desvendar
Só sei que o danado era salgado
E isso não se pode tolerar
(Por que será?)
Quem será que trouxe o doce?
Era o mistério pra desvendar
Só sei que o danado era salgado
E isso não se pode tolerar
O disse-me-disse se espalhou logo pela festa
E a julgar o que então se resta
Teve grande repercussão
Ninguém queria assumir o acontecido
E agora o mal entendido
Já não tinha mais volta, não
Mas no fim das contas
Tudo deu mesmo foi em nada
Pois pra coisa muito falada
Não se encontra a solução
Olhe, eu acho
É que a culpa foi de um demente
Que querendo ser diferente
Cometeu essa confusão
Mas quem foi que trouxe o doce?
SEM ENXAME
Rubens Lisboa
Não me chame
Deixe de enxame
Não vá criar vexame
Que não vai adiantar
Não reclame
Nem proclame
Não creio que me ame
Pare de ser infame
E vá se aquietar
Não tenho dúvida
De que não me adora
Tenho certeza
De que você não me quer
É só orgulho, é só bobeira
É papo de entulho, é coisa de lelé
Eu tô na moda, sou bom de foda
Mas eu não quero que peguem no meu pé
Me deixe livre, me deixe solto
Eu sou assim
E seja o que Deus quiser
MARACATU DO BREJÃO
Rubens Lisboa
Maracatu
Maracatu do Brejão
Eu amo tu
Que tá no meu coração
Surgem matracas aqui e acolá
Teu toque ecoa em todo lugar
Eu tô aqui pra incomodar
Não fosse assim...
O que seria de mim?
Vê a calunga no alto bastão
Sente a batida da percussão
Me dá a linha da tua mão
Sou um bom moço
Por que sinto alvoroço?
Quem vai findar meu esboço?
Sei que tu és meu colosso
Maracatu
Maracatu do Brejão
Eu amo tu
Que tá no meu coração
Tu me ganhaste na esparrela
Tempo não pára nem com balela
Montas no asfalto a passarela
Não fosse assim...
O que seria de mim?
Caras e cores na rua de cima
Teu balançar é que me anima
Faz inspirar o verso e a rima
Sou um bom moço
Por que sinto alvoroço?
Quem vai findar meu esboço?
Sei que tu és meu colosso
Tu que tá no meu, tu que tá no meu
Tu que tá no meu batuque
Tu que tá no meu, tu que tá no meu
Tu que tá no meu coração
Tu que tá no meu, tu que tá no meu
Tu que tá no meu batuque
Tu que tá no meu, tu que tá no meu
Maracatu do Brejão
CANDURA
Rubens Lisboa
Estrada de sol
Um caminho que anseia o além
Clave de fá
Ave tonta ao léu mira alguém
Gana que mói
Fere o centro estrelado do amor
E o rato destrói
A poltrona do velho senhor
Candura
Onde anda o seu reino
Fez-se aqui bem agora
Antes de desabar
Candura
Vê se desce do queijo
Está mais que na hora
De você vir deitar
VOCÊ PRA MIM É PROBLEMA SEU
Rubens Lisboa
Se lhe doeu, me desculpe
Não foi assim por querer
É o meu jeito absorto
Será que nunca percebeu?
Mas que saber?
Tô nem aí...
Você pra mim é problema seu
Se agi mal, me perdoe
Não foi pra lhe magoar
É o meu jeito meio torto
Será que nunca percebeu?
Mas quer saber?
Tô nem aí...
Você pra mim é problema seu
Pode dizer que eu sou um egoísta
Que não me importo com ninguém
Que não respeito os sentimentos
E atropelo feito um trem
Nem sei se isso é verdade
Não tenho tempo a perder
Mas nunca é premeditado
É só o meu modo de ser
Não ajo por rixa ou maldade
Também não sinto prazer
Mas sou assim, eu não mudo
O que é que eu posso fazer?
Não seria pra mim desta forma
Se eu pudesse escolher
Mas sou assim, eu não mudo
O melhor é você me esquecer
TRÊS FLORES
Rubens Lisboa
No meu caminho encontrei três belas flores
Com a primeira fiquei rosa de paixão
Avermelhou-se o coração estraçalhado
Senti o aroma que renasce no verão
Depois me veio a margarida sempre linda
Por ela pus pra fora todo o sentimento
Surgiu a dália de repente com doçura
E aí fiquei enlouquecido de tormento
Por que é que eu amo tanto
E ainda finjo espanto
Querer demais me faz sofrer assim
O que eu posso causar
Com este doido amar
A tal resposta está dentro de mim
CONTRAMÃO
Rubens Lisboa
Não curto ser “da terra”
Nem sou de usar cocar
Detesto caranguejo
Não ponho patuá
Não gosto de modismo
Jamais quis virar mito
Descarto correntinha
Sou muito esquisito
Não falo muita gíria
Nem vejo graça em gorro
Pra que tanta besteira
Se qualquer dia eu morro
Não vou pingar colírio
Fico legal de pé
Se é pra fazer tipo
Prefiro ser mané
Eu tô na contramão
Da contramão
E digo não
Sou muito mais eu
Não vim pra ser imitação
Eu tô na contramão
Da contramão
E digo não
Sou muito mais eu
Não vim pra ser um canastrão
Em ‘Arteiro’, Rubens deixa transparecer sua personalidade. Ele é um artista que não quer clonar e nem seguir ninguém. Faz sua própria música de maneira bem pessoal e cria seu espaço.
BETO FEITOSA (pesquisador musical)
De novo em meio a ensaios, escolhas de tons, descobertas de timbres e detalhes de arranjos, vejo-me tomado pelo desejo enorme de botar no mundo mais um trabalho (o terceiro) - feito com muita paixão e fé - e de vê-lo crescendo.
Acreditar é sempre muito bom!
Acreditar na união das pessoas, na responsabilidade que tenho de tocar no inconsciente de cada um, fazendo brotar as mais recônditas emoções, e na força da canção como propulsora de mudanças e afloradora de sentimentos tantos.
Como é bom poder compor!
Como é bom poder cantar!
Como é bom poder mostrar a multiplicidade de ritmos, passear sem medo por eles e me abrir a todas as tribos!
Eu quero é isso, eu quero tudo, eu quero é mais...E quem tiver bons ouvidos para ouvir, que ouça!
Com um cheiro doce de âmbar,
Rubens Lisboa
Para Maria Bethânia, abelha-rainha da canção popular brasileira e dona do meu favo mais doce de mel.
Ficha TécnicaProduzido por RUBENS LISBOA Gravado por EDUARDO MENEZES NO ESTÚDIO TRÊS (ARACAJU SE) Mixado por EDUARDO MENEZES, DIOGO MONTALVÃO e RUBENS LISBOA NO ESTÚDIO TRÊS (ARACAJU SE). Masterizado por CARLOS FREITAS NO CLASSIC MASTER (SÃO PAULO-SP) Projeto Gráfico por ANDRÉ BRITO e RODRIGO DE FREITAS NA INSIGHT PROPAGANDA (ARACAJU SE) Fotografias por ALUÍZIO ACCIOLY NO ACCIOLY STUDIO (ARACAJU SE) Produção de fotos por MARILIA CRUZ Maquiagem por JÚNIOR LEAL
TODAS AS TRIBOS
Rubens Lisboa
Todas as tribos em mim
Porque eu sou muitos
Todas as tribos em mim
Porque eu sou plural
Todas as tribos em mim
Porque eu sou vários
Todas as tribos em mim
Porque sou universal
Caboclinhos, rastafáris, webmasters e enjeitados
Skinheads, popozudas, magistrados
Sadomasos, estudantes, ditadores e ateus
Sanguessugas, vigaristas e plebeus
Marinheiros e pm’s, marajás e suburbanos
Vagabundos, colombinas, sergipanos
Marombados, pés de valsa, puxa-sacos e turistas
Psicóticos, tatuados e skatistas
Tudo me comove
E o mundo se move
Tudo é assim Tudo é assim
Todas as semelhanças, todas as diferenças
Todas as tribos em mim
Todas as tribos em mim
Kamikazes, beduínos, manequins e apadrinhados
Proxenetas, pacifistas e tarados
Sacerdotes, bom-vivants, os caretas e os cornudos
Zen-surfistas, guarda-costas e bicudos
Trapezistas e roncolhos, tabaréus e saramagos
Salva-vidas, prostitutas e os gagos
Empresários, idiotas, secretárias e legistas
Trupizupis, perdulários e artistas
SAMBA
Rubens Lisboa
Samba
Morada do bamba
Coração comanda
O baticum da vida
Bamba
Se entrega ao samba
Coração comanda
O povo na avenida
Dura
Só até quarta-feira
Santo sonho insano
De ser como um rei
Dura
Essa nossa sina
Que de riso e pranto
Faz-se eterna lei
O meu samba é herança popular
É minha arte Minha forma de falar
Encantada
Que me expõe o coração
E deixa rastros de luz negra
Pela imensidão
SAUDADE.COM
Neu Fontes
Eu ando doido
Procurando pelo mundo
Mandei até um e-mail na certeza de lhe achar
Pra lhe contar como a dor de uma saudade
Nunca passa
Só disfarça com pipoca e guaraná
Eu quero é rima
Misturando a sua sina,
Carne seca, macaxeira, sururu e caviar
Com dor de ouvido, dor de corno, dor de dente
Onde tá você, oxente
Meu remédio é o seu olhar
‘Cê quer saber?
Vou lhe encontrar
Em Istambul, Maruim ou Shangrilá
‘Cê quer saber?
Aí, vou lhe amar
Numa canoa navegando ao luar
Ao luar
NENÉM
Vander Lee
Preciso de alguém
Que me tire uns bichos de pé
Me faça cafuné, me chame de seu nego
Preciso de alguém
Que me escove os dentes
Que me faça muito carinho
Me sirva um bom vinho e me dê presentes
Alguém que me faça massagem e me passe pom-pom
Que adore uma sacanagem, me suje de batom
Preciso de alguém
Não me bate porque sou neném
Não me trate com desdém
Eu sou cheio de nhém-nhém-nhém
Preciso de alguém
Pra bater o meu ponto
Pra me dar roupa lavada, passada
E rir das piadas que eu conto
Que me traga jornal
Cafezinho, cerveja
Que nunca fique de mal
E não goste de música breganeja
Alguém que me dê mamadeira, me aplique gelol
E de Ronaldinho me chame
Pra eu não dar vexame no futebol
Preciso de alguém
Não me bate porque sou neném
Não me trate com desdém
Eu sou cheio de nhém-nhém-nhém
NEM ADIANTA
Rubens Lisboa
Não me venha pedir perdão
Que perdão não é de graça
De grátis nem a cachaça
Que a vida me prometeu
Não me venha pedir perdão
Nem adianta dizer nada
Sua desculpa esfarrapada
Já não convence mais eu
Eu não vou mais ficar
Do seu ladinho tão só
A ter a sua companhia
Melhor ficar no caritó
Eu não mais deixar
‘Cê me tratar pior
Arre diacho eu não
Mereço esse perrengue
‘Cê tem jeito de merengue
E eu sou doidinho por forró
E isso aqui tá bom demais
Se tá!
Mas já não cabe pra nós dois
Então!
Melhor ‘cê me deixar em paz
E é?
Deixa a conversa pra depois
Que esse forró tá bom demais
Se tá!
Mas não foi feito pra nós dois
E não?
Nem queira abaixar meu gás
Rapaz!
A gente se acerta depois
SAPATO NOVO
Patrícia Polayne
A gente não tem mais dinheiro
Pra comprar sapato novo
De chinelo, não corro!
Querem me tentar subtrair
Para me fazer subverter
Para me envolver sem libertar P
ara não gozar, submeter
Já vale o Sol daqui deste sertão
Que de tão ser forte
Queima a razão
Querem me forçar, fazer sorrir
Com o que passa na televisão
uerem me arrancar sem me pedir
E eu não tenho mais dinheiro, não!
A GATA TRISTE
Rubens Lisboa
Eu tinha uma gata e um mistério
Embora no fundo nada fosse sério
A gata triste
O mistério da vida
Mas ela insistia, aquela bandida
Um dia esqueci a janela aberta
E ela entrou pela nesga certa
Procurou o secreto
Encontrou o que quis
Estava a um palmo do seu nariz
A gata triste
Ainda insiste
Em tentar me fazer feliz
Mas sem o mistério Não sei como agir
Terei outra trama que urdir
A gata triste
Ainda resiste
Mesmo vendo: o culpado não fui eu
Acabou-se o mistério
E pra ela sorrir
Terá que outra trama descobrir
DA LAIA DO LAMA
(Antonio Villeroy)
Depois que Deus fez a terra
Esculpiu no barro os ossos de Adão
Retirou a parte mais bela
E fazendo a mulher inventou a paixão
Ao criar essa tal divisão
Fez o homem mover a engrenagem da historia
Pra curar sua solidão
E salvar sua Helena de Tróia
Mas se o homem é de barro
Cuidado com o andor
Esse santo não pode quebrar
Já diria o provérbio de raro valor
Quem tem pressa vai devagar
Eu sou da laia, da laia do lama
Da laia, da lama do lado de cá
Eu sou da laia, da laia do lama
Da laia, da lama do lado de cá
Mas muito to a fim dessa dama
Eu quero o nirvana agora, já
Mas to muito a fim dessa dama
Eu quero o nirvana agora, já
Fui descer ao porão da materia
Beliscar alimento pagão
Revolver a humana miséria
Religar minha religião
Com os pés enterrados na lama
Busquei claridade na escuridão
Fiz o meu coração em pedaços
Colei os meus cacos e me sinto são
MARIA DO SERTÃO
Beto Vasconcelos
A dor
Não vai mudar
A cor
Em teu olhar
Pensei
Que fosse amor
Talvez
Se fosse o mar
Nadar
No teu penar
A cor
Não vai mudar
A dor
Em teu olhar
Pensei
Que fosse amor
Talvez
Se um beija-flor
Beber
Do teu cantar
Sempre as mesmas flores
Sempre as mesmas dores
Sempre os mesmos homens
Sempre a mesma ferida
Sempre a mesma fome
Amor
Eu também sei
Que o amor
É mais que a lei
E o amor
Também é dor
E a dor
Confunde amor
Eu sei Pois já amei
CLIMA LEGAL
Rubens Lisboa
Olhozinhos puxados
Faça seu teatro que eu vou lhe assistir
De um lado pr’o outro
Feito bailarina num salto cair
Prometo, não rio
Se eu sinto arrepio é o frio do verão
Parece criança mormente se dança
Com o fim da canção
Criatura danada
‘Cê está arriada e não quer se entregar
É coisa de tempo
Mais cedo ou mais tarde, não vai segurar
Eu saco seu truque
Azara o meu muque mas faz que não vê
É tudo balela
É só eu dar trela que ganho você
É que nisso eu sou bom, meu bem
Eu conheço de amor demais
Já fiz isso também, neném
Jogue a pedra quem que não faz
Esse clima é que é legal
Bem melhor que a consumação
Pois às vezes na horizontal
Não é como de pé no chão
VAI DE MADUREIRA
Zeca Baleiro
Se não tem água Perrier, eu não vou me aperrear
Se tiver o que comer, não precisa caviar
Se faltar molho rosé, no dendê vou me acabar
Se faltar Moet Chandon, cachaça vai apanhar
Esquece Ilhas Caiman, deposita em Paquetá
Se não pinta um Cordon Bleu, cabidela e vatapá
Quem não tem Las Vegas vai no bingo de Irajá
Quem não tem Beverly Hills mora no BNH
Quem não pode
Quem não pode Nova York vai de Madureira
Quem não pode Nova York vai de Madureira
Quem não pode Nova York vai de Madureira
Se não tem Empório Armani
Não importa
Vou na Creuza, costureira do terceiro andar
Se não rola aquele almoço no Fasano (Antiquarius)
Vou na Vila Vou comer a feijoada da Zilá
Só ponho Reebok no meu samba
Quando a sola do meu Bamba chegar ao fim
Citação: “Próxima Encarnação” (Itamar Assumpção)
Na próxima encarnação Não quero saber de barra Replay de formiga, não Eu quero nascer cigarra
ESCRAVO
Antônio Carlos du Aracaju
O que você quer?
Tudo eu já lhe dei
Vivo me humilhando por você
Louco e sem querer
Não sei mais o que fazer...
O que será de mim?
Sei que lhe perdi
Triste, minha sombra lhe acompanha
Escravo sem poder
Nem tem mais o que dizer...
Não me chama mais
Nada satisfaz
Flores e palavras são banais
Eu lhe amo assim
Nada é tão ruim
Breve, o seu orgulho terá fim
Pois todo amor
Pra ser eterno
Precisa mais que um ‘sim’
MASCARADA
Rubens Lisboa - Djenal Soares
Minha cara
Com que cara você vai me encarar?
Com a mascarada?
Com essa cara-de-pau
Cara de mau
Cara lavada?
Veja se muda
Veja se troca de argumento
E me convence
Já que eu sou o inteligente
E você a idiota
Então, pense!
Pense sempre antes de falar tanta besteira
E saiba que a contradição é uma mentira
Que corre à beira
Se é pra me explicar
Que seja tudo muito bem contado
Senão ‘cê corre o risco
De não mais me ter ao lado
Pense, pense muito
Sempre, pense bem
Muito, pense sempre
Claro, pense bem
Pense, pense muito
Sempre, pense bem
Muito, pense sempre
Claro, pense bem
SE EU FOSSE VOCÊ
Rubens Lisboa
Na marra ou na manha
Você não me ganha neste Carnaval
Tô muito mudado
Mais bem comportado E
tcétera e tal
Já sei o que quero
Tô sendo sincero e legal com você
Não tem abadá
Não tem “vem pra cá”
Nem tem bem querer
Se eu fosse você
Curava a ressaca no meio da chuva
A uva do vinho que lhe embriagou era doce demais
Se eu fosse você
Mudava de bloco no meio da rua
E nua
Saía cantando que ano que vem não tem mais
Música Incidental
“V assourinhas”
(Matias da Rocha e Joana Batista Ramos)
MALUQUICE
Rubens Lisboa
“Sou eu que me deito tarde, sou eu que levanto cedo
Sou eu que realço tudo, sou eu que não tenho medo” (*)
Se a sina estava escrita, nem quero saber por quê
O amor quando logra certo, a gente fez merecer
O amor quando logra certo, morena, a gente fez merecer
Quando acabar
Quando acabar
Quando acabar, o maluco sou eu
Quando acabar
Quando acabar
Quando acabar, o maluco sou eu
Eu nunca pintei o cabelo, nem entrei em contradição
Não sou de rasgar dinheiro, jamais fui um canastrão
Se hoje ainda não se sabe, é tempo de aprender
O povo conduz a vida do jeito que dá pra ser
O povo conduz a vida morena, do jeito que dá pra ser
Quando acabar ...
Já ando em cem por cento, engordo comendo luz
Assumo o que fiz nascer e guardo o sinal da cruz
E busco o que vi no sonho, primeiro vou entender
O modo de conquistar, o tino é que vai dizer
O modo de conquistar, morena, o tino é quem vai dizer
Quando acabar ...
Deixe ser, deixe estar
Vá ao espelho se olhar
Só assim vai perceber
Que o maluco é você
(*) de “PONTO” (Anônimo)
SÓ E VADIO
Kleber Melo - Jorge Ducci
Todas as portas abertas
O pecado mora ao lado da gente
Mesmo com todo o cuidado
Entre corações fechados se sente
Como nódoa que larga
Como qualquer fruta amarga
Feito farpa, foste espinho
No aconchego do ninho
To na terra, to em Marte
O tiro do seu bacamarte
Acertou-me no peito
E não houve outro jeito
Estou só e vadio...
Rubens é um aglomerador de linguagens. Mesmo tratando de um assunto específico, ele sempre torna plural o sentido da mensagem que transmite em suas composições. É justamente neste ponto que seu tribalismo se manifesta.
AMOROSA (cantora e escritora)
Repleto de segundas intenções, aqui estou eu, de novo, mergulhado nesta viagem maravilhosa que é a perpetuação do canto...
Através das dezesseis canções (desta vez, todas de minha autoria, metade delas em parceria), tento expor, feito um mosaico harmônico, o meu prazer em compor, só igualado ao de cantar, ato mágico de transmutação.
E como síntese, buscando estabelecer elos entre o antigo e o novo, permito-me ousar, com o olhar sempre para o grande, de modo igual ao insuperável Drummond quando, sensível aprendiz da vida, soube ele se decidir pela valia maior: a de se tornar eterno.
Com um cheiro doce de âmbar,
Rubens Lisboa
Para ELZA SOARES, eterna mestra, e GENA RIBEIRO, eterna saudade...
Ficha TécnicaProduzido por: DIOGO MONTALVÃO, EDUARDO MENEZES e RUBENS LISBOA Gravação: EDUARDO MENEZES Mixagem: EDUARDO MENEZES, DIOGO MONTALVÃO, JEFFERSON ANDRADE, MARCUS DEMORAES e RUBENS LISBOA Gravação das bases e mixagem: ESTÚDIO “AV PRODUÇÕES” Gravação das vozes: ESTÚDIO “CAPITANIA DO SOM” Editoração, arte e ilustrações: RAPHAEL BORGES “MINGAU” Fotos: ROBERTO MONTE
NÓS
(Rubens Lisboa – Jorge Roberto)
Vem, vem cantar, vem dançar
Neste palco tão musical
Neste solo bem tropical
Vem, vem amar, vem pular, vem gozar, vem xaxar
Este sonho é sensacional
Esta é a terra do Carnaval
Nós, uns mil loucos poetas
Nós, os palhaços do mundo
Nós, os atores da sorte
E cantores de porte
Bailarinos do ar
Vamos erguer as cortinas
E lançar serpentinas
Sustenidos, bemóis
E assim vai pintando uma ideia
O camarim, a plateia
Nós aqui somos nós
E assim vai rolando a ideia
No camarim, na plateia
Nós aqui somos nós
NA HORA "H"
(Gilton Lobo - Rubens Lisboa)
Deus não pode te querer assim
Um fruto tão insosso, um angu de caroço
Deus não pode te querer assim
Descasca essa aparência
Descobre a tua essência
E eu penetro em tua veia
No teu calor que me incendeia
Hoje é noite de Lua cheia
Em ti, eu vou me achar...
Vem cá
Que eu quero te ninar
Ninar no fogo da tensão
Tensão
Tudo na hora "H"
A bomba, a sensação
Deus não pode te querer assim
Nos teus olhos um desejo, uma cegueira que eu não vejo
Deus não pode te querer assim
Arrebenta essa sangria
Joga fora tua agonia
E eu me encontro de repente
No teu jeito de carente
Hoje é noite de estrela cadente
Contigo vou me deitar...
ESCOMBROS
(Djenal Soares - Rubens Lisboa)
A arte é a arte
Onde a parte pode ser o todo
O lodo do homem escondido
Atrás do homem que passa fome
Atrás do lobo escondido do homem
E a fábula ensina a passos largos a verdadeira história
Que chora a morte de seus arlequins
Meninos da rua que dançam na pista e nela morrem
Meninas da vida que dançam na cama e nela morrem
E o tom do piano em dó menor
E a dor maior aos assombros
A remoer nos escombros
A corroer os meus dois fartos largos ombros
NEM TÃO SOZINHO ASSIM
(Diogo Montalvão - Rubens Lisboa)
Eu senti o chamado da noite
E saí vagando ao léu
Como um noviço aflito no cio
Clamei ao céu
Nem parece que a festa já chegou ao fim
Amanhece e o Sol não lhe acordou pra mim
Não me deixe só
Eu estou aqui
Venha me encontrar
Não me deixe só
Continuo aqui
Venha me buscar
... mas antes ligue pra avisar
Eu sonhei em atingir o nirvana
E daí surfei na dor
Kamikaze alegre no dia
Alcei o vôo
Nem parece que o tempo já chegou pra mim
Amanhece e você não se acordou pra mim
Não me deixe só
Eu estou aqui
Venha me encontrar
Não me deixe só
Continuo aqui
Venha me buscar
... mas antes ligue pra avisar
TUDO EM VOCÊ
(Neu Fontes - Rubens Lisboa)
De que me vale decifrar os mistérios do planeta
Ter castelos, faunos, reinos
Não envelhecer jamais
De que vale conquistar a oitava maravilha
Ter o mundo em minhas mãos
E domar os temporais
Eu já fui de tantos corpos
Já me deram até demais
Vivi histórias
E eu as fiz reais
Tive tudo o que sonhei
Queria mais
De que vale decifrar os mistérios do planeta
Ter castelos, faunos, reinos
Ser o centro do prazer
De que vale conquistar a oitava maravilha
Ter o mundo em minhas mãos
Se eu já tenho você...?
NA ZONA
Participação Especial: MARTA MARI
(Mingo Santana - Rubens Lisboa)
Na zona urbana
Na zona rural
Na zona norte
Na zona sul
Na zona erógena
Na zona...
Perigo de andar doido na contramão
- Esteja multado por não me dar atenção!
Proibido jogar conversa fora
Você ‘tá fodido, sai daqui, vai embora!
Perigo caminhar com os pés no chão
- Sabe lá o que é que fez o danado do cão!
Proibido sorrir pra qualquer estranho
Não aceite de cara convite pra tomar banho!
Perigo é ficar no jogo do empate
- A verdade é que o prazer é maior pra quem bate!
Proibido sonhar com uma grande vontade
- Pode ser que um dia vire realidade!
AGORA
(Paulo Lobo - Rubens Lisboa)
Morre de saudade o meu coração
Pelas ruas da cidade num carro veloz
O tempo nunca volta atrás
Nem tem mais cinemascope pr’as cores deixarem em paz
Agora é só o neon no ar
O brilho do mar, o prazer do amor
A me endoidecer de tentação
Agora é só o meu som no ar
A onda do mar, o fazer do amor
A me trazer você nesta canção
Dá-lhe mais um
Lá vem mais dois, mais três
É vinte e oito, é final de mês
Tem tanta conta pra pagar
Mas não me importo
Quem duvida
E eu vou me arrumar?
Corre na cidade o meu coração
Pelas ruas da saudade num sarro atroz
O tempo não deixa em paz
Nem tem mais videocassete pr’as dores voltarem atrás
Agora é só o neon no ar
O brilho do mar, o prazer do amor
A me endoidecer de tentação
Agora é só o meu som no ar
A onda do mar, o fazer do amor
A me trazer você nesta canção
DIÁLOGO
(Rubens Lisboa sobre poema de Artur Deda)
Participação Especial: ANTÔNIO CARLOS DU ARACAJU
Meu jovem, sou de outro tempo,
Primeiro que a automação.
Da força do pensamento.
Antes da transformação
Feita, do amor, no conceito.
Pertenço ao tempo vencido.
O do amor pra ser sentido
Antes que para ser feito.
Meu jovem, sou de outro tempo
Do bonde a correr nos trilhos
Das retretas vesperais.
Eu sou do tempo dos filhos
Pedindo a benção dos pais.
Meu velho, não sou do tempo
Deste amor feito opressão
Que sufoca o pensamento,
Querendo ser proteção.
Não sou do tempo vencido,
Mas deste, que é o da verdade,
Que é do amor pra ser sentido,
Sem perder a liberdade.
Meu velho, não sou do tempo
Do bonde a correr nos trilhos
Mas dos feitos siderais.
Eu sou do tempo dos filhos
Pedindo o amor de seus pais.
ALUARAN
(Rubens Lisboa)
"Amanhã
Carneiro perdeu a lã"
Tudo em paz
No mundo sem sutiã
De manhã
Com cheiro de avelã
‘Tô ferino e forte
Dou rasteira na morte
Vou parar no Butantã
Guardiã
Eu ontem comi romã
‘Tô partindo
Pro Porto de Amsterdã
Tecelã
Mexeu com um homem-rã
Despertou capoeira
‘Tá me dando uma coceira
Um pecado, uma maçã
Aluaran, aluaran
Cedinho, de manhã
De manha, amanhã
Dá bom-dia, minha irmã
CALO SECO
(Rubens Lisboa)
Veja lá se não me solta assim de novo o meu dragão
Com ele não dá pé e eu perco até a inspiração
Não vá forçar a barra pra chamar minha atenção
‘Cê sabe que comigo tudo vai de supetão
Não tem intriga
Nem contramão
Não sou de briga
Nem de armação
Só tem uma coisa que eu faço questão de dizer:
- "Não pise em meu calo seco
Senão vai sobrar pra você!"
FAZ-DE-CONTA
(Rubens Lisboa)
Se você quer me deixar
Vá direto ao que escolheu
Não precisa rodear
Se fazer representar
Mais chorosa do que eu
Mas se tudo der em nada
Esqueça o orgulho e volte cá
Podem lhe julgar safada
Podem me achar empada
Que eu não vou me incomodar
Meu amor o que acontece
Sentimento envelhece
A paixão caiu legal
Mas a vida é muito louca
E eu não quero marcar touca
O faz-de-conta é normal
Se procura, me encontra
Eu não tenho nada contra
Suas segundas intenções
Neste arroubo de coragem
Vamos juntos na viagem
Ao país das ilusões
O SEGREDO DA RAÇA
(Rubens Lisboa)
Participação Especial: JOÉSIA RAMOS
Do ventre de nosso país ecoa um grito no ar
Por mais que se tente ou se queira, não pode calar
É fundo e quebra as fronteiras
O sopram os nossos ancestrais
Rebento das forças guerreiras
Um canto de paz!
E o negro carrega na pele o feitiço da cor
No sangue, o segredo da raça, da fé e da dor
No ouro de Olorum que brilha
No olho, o desejo que traz
Na boca, o sorriso que trilha
Um canto de paz!
Raio raiou, noite inteira
Clementina a gingar
Uma estrela no alto
Livre e sempre a guiar
E Otelo tão belo
Terno e eterno a filmar
As chanchadas da vida
Muito a gargalhar
Num só canto de fadas
As maracas do céu
Sopram longe as feridas
Agradecem a Isabel
Para o povo, o artista
Para o artista, o pincel
A tecer nessa tela
Lindo e imenso véu
MAR DE AMASSO
(Rubens Lisboa)
Feito o Sol que ilumina o horizonte
Você veio e me olhou um olhar brilhante
De mãos firmes e pés de pisar descalço
Eu mergulho e me afogo num mar de amasso
Como um vício que pega o principiante
Você veio e ficou num olhar errante
De mãos doces e pés de pisar profundo
Eu me sento na barca e levita o mundo
Nossa Ilha é redonda e a Terra é chata
Essa gente é quadrada e mamãe com isso?
Olha o aviso no riso do dente siso
E nós dois achados no meio da mata
Nosso tempo é sem-tempo, é de estar atento
Pra que junho, dezembro e o Carnaval?
Onde os auto-retratos do documento?
Somos feitos de brisa, sargaço e sal
O LEÃOZINHO E A TIGRESA
(Rubens Lisboa)
O leãozinho se apaixonou pela tigresa
Lindeza de caetanear
Um amor assim delicado
Se pega e logo despreza
Sem queixa por não ter que amar
Do bem, uma força estranha os uniu
Paixão que não dá mais pra ninguém
O leãozinho se apaixonou pela tigresa
Enquanto seu lobo bobo não vem
Depois, pelos olhos de dar, odara
Cara a cara feito feijão com arroz
O leãozinho se apaixonou pela tigresa
E uns era o singular de dois
No mais, ela era linda e só
E ele não ficava atrás
O leãozinho se apaixonou pela tigresa
E foram muitos carnavais
FOGO NA ROUPA
(Rubens Lisboa)
Algo no céu
Boto no mar
Olha a imagem no ar
Rasgo no azul
O olho no amor
Vem cá, meu disco voador
Viaja e traz
Muito mais paz
Pr’este meu povo ninguém
De ouro e mel
Castanha e caju
Descasca essa fruta também
Fogo louco
Fogo de sair faísca na lenha
No oco do acaso do caso que tenha
Pra acontecer de pintar
Fogo na roupa
Pouca e o papoco do estalo da bomba
Da bronca da branca
Que bota uma banca
Sem se esquecer de brilhar
Apeia, fogo morto
Esquenta, êia, êia
Depressa, sobe e pira
A fogueira vai virar
Incendeia, fogo lindo
Bem-vindo, êia, êia
E a massa canta e sofre
A fogueira vai queimar
CANTAR EM MIM
(Rubens Lisboa)
Participação Especial: TÁCITO MACEDO
Oi, avie, se chegue, venha cá
Se atente, quero lhe falar
Eu gosto da brisa ao luar
Da onda na beira do mar
Brincando de me apaixonar
Preciso sentir e provar
Mas o que eu adoro mesmo é cantar
Pois olhe, também sou assim
Igualzinho, tim-tim por tim-tim
É por isso, ô Rubens, que eu vim
Alegria não pode ter fim
Voando que nem passarim
Bem livre, anjo ou querubim
Pois o canto habita fundo em mim
Eu canto solto, eu canto o côco
Eu canto o canto pra lhe encantar
Em todo canto, pra todo lado
Fado, baião e poeira no ar
É o som da bossa, é coisa nossa
Frevo, maxixe e o maculelê
Deixe que digam, deixe que falem
Agora aqui somos eu e você
Vá no meu reggae!
Venha e me pegue!
Bamba no samba explodindo em suor
Melhor não pode, que bom pagode
O louco rock eu já sei de cor
Nessa entrega, o axé e o brega
A fé é cega no acorde do blues
Somos meninos
Nosso destino
No som da terra dos Aracajus
Oxente! Isto aqui tá demais!
O sonho é a gente quem faz
Carece correr sempre atrás
Um navio sem medo do cais
Certeza do que se é capaz
Agora é a hora, rapaz
Cantar vale tudo e eu quero é mais
Tacinho, eu isso bem sei
Aprendi nas estradas que andei
Tá certo que muito eu levei
Mas nunca, acredite, verguei
Sou hoje madeira-de-lei
Por tanto que me entreguei
Minh’alma inteira em canções eu doei
Terceiras, quartas... infinitas intenções abrigadas nesse novo CD de Rubens Lisboa. Rubens é assim mesmo, cativante. É difícil passar incólume por ele, por sua música, por sua poesia.
CARLOS CAUÊ (poeta e publicitário)
Há praticamente dois anos entrei em estúdio para a gravação das primeiras faixas que compõem este meu CD de estreia. O fato de me encontrar, já há algum tempo, ouvindo as minhas canções nas vozes de colegas cantores, aliado à vontade, surgida mais tarde, de eu próprio interpretar as minhas canções, fez-me concluir que tinha chegado o momento de me lançar inteiro na aventura difícil, delirante e deliciosa do mundo do disco. E o compositor que descobri ser e que já começara a sentir a necessidade de soltar a voz (“minha voz, minha vida, meu segredo e minha revelação”) entrava em contato com toda aquela parafernália eletrônica presente em um estúdio de gravação, a qual, até hoje, me atemoriza e me excita em proporções idênticas...
Foram muitas noites trabalhando arranjos, burilando colocações de voz, trocando ideias. O tempo foi passando, sereno e bonito, e, quando vi, tinha gravado quantidade de faixas suficiente para três CDs! A música absorveu a mim e aos meus companheiros de tal forma que, hipnotizados, fomos criando, criando e criando... (E, ao nos darmos conta, era muita coisa boa para ter que selecionar.)
Mas, enfim, eis o primeiro CD pronto para o mundo! Foi deveras complexo conseguir chegar ao repertório daqui constante porque todo o material que gravei me é de todo representativo, mas tenho a mais absoluta certeza de que, no final, tudo saiu exatamente do jeito que eu queria. Ficaram muitas canções igualmente lindas para trabalhos vindouros, mas todas as que aqui estão me emocionam demais e tinham, por um motivo ou por outro, que estar neste trabalho inicial.
O critério adotado foi o de poder mostrar um panorama amplo da MPB que tanto me apaixona. Ao lado de canções de minha autoria, algumas com grandes e queridos parceiros, procurei pôr à mostra a minha outra face – a de intérprete, o ator do dia-a-dia – ao revisitar os mestres ARRIGO BARNABÉ, CAZUZA e CHICO BUARQUE e ao poder gravar, com toda a honra, a nata do cancioneiro sergipano através das músicas que me foram tão carinhosa e confiantemente presenteadas pelos seus autores.
No mais, o que posso arrematar é que compreendo, hoje, que as pessoas presentes comigo, neste CD, não estão aqui só porque meramente estão. Nada foi por acaso e tudo parece mesmo que estava escrito. Por isso, os talentos desses músicos formidáveis que tocaram de forma tão maravilhosa, bem como as presenças de meus convidados, amados colegas e amigos, AMOROSA, CHICO QUEIROGA, CRIS EMMEL, GENA RIBEIRO e PATRÍCIA POLAYNE que dividiram comigo faixas que têm a ver com o entrelaçamento das histórias de nossas vidas. Estão presentes pois são artistas e seres humanos lindos, tornaram-se fundamentais naquelas canções e porque a festa é enorme e dá para muita gente, é só querer e saber partilhar!
Assim, meio de lua, mas inteiramente de verdade, o que eu agora espero mesmo é que vocês possam curtir pra caramba este trabalho que foi feito com muita paixão e fé.
Com um cheiro doce de âmbar,
Rubens Lisboa
Para a grande intérprete MARLENE, lição máxima de música e de vida.
Ficha TécnicaProduzido por DIOGO MONTALVÃO e RUBENS LISBOA Co-produzido por EDUARDO MENEZES Mixagem e Masterização: JEFFERSON ANDRADE e EDUARDO MENEZES Técnico de Gravação: EDUARDO MENEZES Auxiliares de Gravação: ALEXANDRE MELO e VIGU Repertório: RUBENS LISBOA Gravado e mixado nos Estúdios “AV” - Aracaju (SE), com calma e independência suficientes para realizar um trabalho adorável. Editoração & Arte: CARLOS TADEU Ilustrações: LAÉCIO Fotos: JOHNNY OLIVA
ODE A LUA
(Rubens Lisboa)
Quem vai iluminar o canto?
Quem quer encantar estrelas?
Quem pode luzir o opaco do mundo no espaço, vasto céu?
Quem vai exterminar o pranto?
Quem quer acabar querelas?
Quem pode girar em doce acalanto num louco carrossel?
Quem vai alunar?
Quem quer é brilhar?
Quem pode tecer alva imagem no mar?
Quem vai me guiar?
Quem quer me inspirar?
Quem pode me segurar?
AVISO AOS NAVEGANTES
(Rubens Lisboa)
Olá, como vão?
Tá tudo legal?
Eu vim avisar que não dá pra prestar atenção em vocês
Desculpem o modo
Não levem a mal
Já posso romper as amarras, as farras do meu coração
Se eu sei quem eu quero
Se sei onde está
Pra que remoer travesseiros, contando carneiros no céu?
Os caras podem censurar
As caras vão se espantar
E eu vou destruir os edifícios
Vou pichar mil orifícios
Para a cidade arrepiar
Se às vezes fui um responsável
Se às vezes fui um vagabundo
Eu sempre fui o que queria
Todo dia é algum dia
E eu tenho o meu lugar
Tanto papo rolou
Minha cuca rodou
Agora conheço a loucura e a faço refúgio pr’o amor
Um beijo pr’ocês
Tô indo pra mim
Quem sabe, algum dia, a gente se encontra de novo ou sei lá...?
Os caras podem censurar
As caras vão se espantar
E eu vou destruir os edifícios
E pichar mil orifícios
Para a cidade se lembrar
De que às vezes fui um responsável
Outras vezes fui um vagabundo
Mas sempre fui o que queria
Todo dia é algum dia
Todos têm o seu lugar
Olá, como vão?
VIETNAMITA
(Marta Mari – Antônio Passos)
Tens uma boca quase sempre fechada
Úmida
Insatisfeita
Passiva
Desconfiada...
À noite, expele o licor da morte
Expõe a pele, Agnus de Deus
Para que os ateus morram de frio e tédio
Esperando a volta de Prometeu
Prometeu
Prometeu
E não cumpriu
Prometeu
Prometeu
Prometeu e não cumpriu
Vietnamita
Essa saída à francesa
Explode o Sol nascente nos olhos sampaku
Agora é um outro dia, logo no paralelo
Em alta toxina, nas veias tortas
Não me importo com você de amarelo
Quero apenas um elo seu
Seu
Seu
Um elo seu
Seu
Seu
Seu
Um elo seu
SUBPRODUTO DO ROCK
(Frejat – Cazuza)
Mamãe, tá certo
Eu me dei mal na escola
Isso acontece...
Mês que vem eu melhoro!
Mamãe, tá certo!
Eu pisei na bola,
Quebrei vidraça, fiz a maior pirraça
Mamãe, tá certo
Eu fui pro fundo e não pode
O mar tá bravo
Que bode!
Pode cortar televisão e vitrola
Parar o jogo
Você é a dona da bola!
Só não me xingue,
Não me xingue
De sub, sub, sub, sub, sub o quê
Não me xingue,
Não me xingue,
De sub, sub, sub, sub, sub o quê
Subproduto de rock
Será um tipo de nhoque
Subproduto de rock
Alguém me deu um toque
O que é que quer dizer?
Subproduto de rock
Será um tipo de nhoque
Subproduto de rock
Alguém me deu um toque
O que é que quer dizer?
QUEBRA-MOLAS
(Gilton Lobo – Rubens Lisboa – Djenal Soares)
Participação Especial: GENA RIBEIRO
Em uma rua de mão-dupla...
Em uma rua de mão-dupla...
Em uma rua de mão-dupla...
Em uma rua de mão-dupla...
No quebra-molas
O quebrar molas
Se quebra, enrola
Naquela rua de quebra-molas
A gente se cruza
A gente se cruza
No quebra-molas...
No quebra-molas...
A gente cruza, se usa
A gente rola, se embola
Requebra, quebra e se quebra
Se mela, rela e se cola
A gente cruza, se usa
A gente rola, se embola
Requebra, quebra e se quebra
Se mela, rela e se cola
No quebra-molas...
No quebra-molas...
Sob a Lua de Bóra-Bóra
Tua (minha) malha crua em minha (tua) pele cola
E a gente
Embora àquela hora
No quebra-molas daquela rua
Se ama demais...
Requebra que no quebrar da mola
Eu quero ver quem cola!
AMOR DE ESTAÇÃO
(Guga Montalvão – Ricardo Monteiro)
Fazer de novo um São João
Mesmo fora de estação
Sobre pr’o céu qualquer balão
Você tem jeito de explosão
O chão, poeira, o lodo das conversas
No cantinho da prisão
Roer o aço que nos prende
E cuspir na sua mão
Um beijo ácido que roubei
Meio gosto de sabão
Lavar a mancha no sofá da sala
Que me fala de tesão
Diz não, diz não
Vou lhe trocar pelo Carnaval
Diz não, diz não
Vou lhe trocar pelo Carnaval
Fazer de novo um Carnaval
Mesmo fora de estação...
SUSPEITO
(Arrigo Barnabé – Hermelino Neder)
Você tem medo de fazer amor comigo?
Você tem medo de acordar com um bandido
E ver, no espelho, escrito com batom?
- “Tchau, trocha, foi bom...!”
Você não sabe de onde eu tiro o meu dinheiro
Você não sabe o que eu faço o dia inteiro
E esse mistério destrói a nossa paz
Não posso mais...
Não, não me pergunte nada
Me deixe apenas vendo o seu corpo lindo
Vindo para mim
E não se esconda tanto
Pois o seu corpo chama um outro corpo
Solto sobre o seu
E eu bem sei
É o meu!
Você suspeita que eu não seja um bom sujeito
E não entrega seu amor a um suspeito
Mas mesmo tentando, jamais conseguirá
Não me desejar...
CHEIRO
(Rubens Lisboa)
Participação Especial: PATRÍCIA POLAYNE
Um cheiro doce de âmbar
Me traz as lembranças
Mistério lunar
Um cheiro doce de âmbar
Me traz os mistérios
Lembrança lunar
Me traz a certeza que eu vivo a cantar
Segredo profundo de dissimular
O som das guitarras a me açoitar
A cor da morena cheirando a amar
Se tudo isso me vem
Esqueço e ignoro o que me faz chorar
Trovão a roncar que me faz renascer
Cada vez que um raio me vem acordar
De tudo isso me vale
Um facho de Sol, claro, a tudo brilhar
Como se eu fosse o menino
Que um vento macio vem despertar
Acordei...
Acordei!
AIRA
(Diogo Montalvão)
Se todo louco
Louco
Louco sentimento
Se faz em nós tão vazio...
Não feche os olhos
Não se deixe iludir
Pois o sonho entre nós se transformou em ironia
Não em um certo conto
Romântico e mofado...
Sei que não há surpresas
E o cinismo nos cai bem
Mas desculpe a sutileza
Que perdi nas noites escusas
Com você
Só que não somos os últimos para ambos
Só que não somos os únicos...
REAL
(Neu Fontes – Rubens Lisboa)
Dorme bela feito um anjo
Dorme pra não acordar
Dorme feito gente grande
Que é feliz dormindo, sem representar
E no sonho ela sonha
Que o sonho vai vingar
Vai poder dormir em paz, quer paz
Pra quando o mundo despertar
Vir a acreditar
Que o sonho é real
Dorme virgem feito um sonho
Que ninguém ousou sonhar
Dorme feito a adormecida
Que precisa um beijo pra entrar no ar
Sonha com beijo de um anjo
Que lhe ensine a voar
Quer dormir com ele em paz, rapaz
Pra quando, enfim, despertar
Vir a acreditar
Que o sonho é real
EU SEI
(Joésia Ramos – Maria Cristina Gama)
Não, meu bem
Mas eu que senti
Eu amo só de amar
Eu amo só de amar
Eu amo só de amar
Eu amo só de amar
Mas eu disse
Quero só por querer
Eu quero só por querer
Eu quero só por querer
Quero só por querer
Eu quero só por querer
Eu sei
Eu sonhei só para te dar
Só para te dar eu sonhei
E sei
Áh! Eu sei
Como que não iria dizer
Que sei, que sei
Sei, sei, sei
Que sei, que sei
Sei, sei, sei
MARIA ALICE
(Rubens Lisboa – Byer)
Participação Especial: CHICO QUEIROGA
Ponteia, peão
Pr’os olhos de quem te queira...
O meu coração
Nos braços de uma morena...
Ai quem duvida que habitas na palma da minha mão!
Há quem duvide de nosso amor...
Maria Alice me mandou mil buquês de algodão
Inspirados em meus versos
Encantados de ilusão
Ó doce menina
Galopa em meu pensamento...
Que pena, pequena,
Que foges e mentes muito...
Ai quem duvida que comandas o meu pobre coração!
Há quem duvide de tanto amor...
Maria Alice me mandou mil recados em canção
Inspirados em meus versos
Enluarados de paixão
Ai, ai
Ai do nosso amor!
Que era tudo
Que era tonto
Que era tanto e se acabou...
Ai, ai
Ai e se acabou!
Era tudo
Era tonto
Era tanto o nosso amor...
ORVALHADA
(Rubens Lisboa)
Orvalho da manhã
Lava minh’alma enfim
Rega a terra do curumim
Me deixa assim, assim...
Orvalho da manhã
Traz ela aqui pra mim...
CAÇADA
(Chico Buarque)
Não conheço seu nome ou paradeiro
Adivinho seu rastro e cheiro
Vou armado de dentes e coragem
Vou morder sua carne selvagem
Varo a noite sem cochilar, aflito
Amanheço imitando o seu grito
Me aproximo rondando a sua toca
E ao me ver você me provoca
Você canta a sua agonia louca
Água me borbulha na boca
Minha presa rugindo sua raça
Pernas se debatendo e o seu fervor
Hoje é o dia da graça
hoje é o dia da caça e do caçador
Eu me espicho no espaço feito um gato
Pra pegar você, bicho do mato
Saciar a sua avidez mestiça
Que ao me ver se encolhe e me atiça
E num mesmo impulso me expulsa e abraça
Nossas peles grudando de suor
Hoje é o dia da graça
hoje é o dia da caça e do caçador
De tocaia fico a espreitar a fera
Logo dou-lhe o bote certeiro
Já conheço seu dorso de gazela
Cavalo brabo montado em pelo
Dominante, não se desembaraça
Ofegante, é dona do seu senhor
Hoje é o dia da graça
Hoje é o dia da caça...
Hoje é o dia da caça...
Hoje é o dia da caça...
Hoje é o dia da graça
Hoje é o dia da caça e do caçador
Hoje é o dia da graça
Hoje é o dia da caça e do caçador
Hoje é o dia da graça
Hoje é o dia da caça!
ORATÓRIO
(Pantera – Ronaldson)
Mesmo que a minha alma se faça pequena
E amanhecer sem calma, sem nada de bom
Rosa vermelha a alma
Palma, carne e cruz
Alma de Jesus
Se a dor amarga cala, tortura e pena
Minha oração aclara, rosário pro amor
Rosa vermelha, a alma
Palma, carne e cruz
Alma de Jesus
Profundo que Ele me é
Remir mereça
Tudo a verdade e a fé
Ternura presa na cruz
Alma de Jesus
TOMEI DE CARA
(Rubens Lisboa)
Participação Especial: AMOROSA
Num cantinho perdido da Terra
Sob o Sol que amorena o sertão
Diz que um bom cabrito não berra
Sofrimento se pega com a mão
Sofrimento renega o irmão
Sofrimento relega a Nação
Mas de noite tem farra e tem xamego
Pra esquecer a dureza, tem forró
Urubu lá no morro é coroa
Cá do meio, licor, suco e loló
Dá de longe calor, festa e bobó
‘Tá tão cheia de amor que faz até dó
Caiu o caju, caju na ara
Dá bom fruto na seara, norte-vento-sul
Tomara seja fruta rara
Nesse azul, tomei de cara
Ara-Aracaju
Há zueira nas praias e feiras
Forte cheiro de vida e suor
E meu povo levanta bandeiras
Ambições esquecidas de cor
As missões bem cumpridas de cor
As lições aprendidas de cor
Mas de noite tem farra e tem xamego
Pra esquecer a dureza, tem forró
Urubu lá no morro é coroa
Cá do meio, licor, suco e loló
Dá de longe calor, festa e bobó
‘Tá tão cheia de amor que faz até dó
Caiu o caju, caju na ara
Dá bom fruto na seara, norte-vento-sul
Tomara seja fruta rara
Nesse azul, tomei de cara
Ara-Aracaju
ALUCINADO BLUES
(Rubens Lisboa)
Quero cantar um blues
Alucinado blues
Que é pra fazer brilhar meu foco de luz em você
Quero soltar a voz
Adocicada voz
Que é pra melar você com o pólen salgado e suado do meu prazer
Um blues bem bacana
Um blues tão sacana
Viagem cigana na estreita garganta profunda dos sons
Um blues indecente
Um blues insolente
Pedido carente de um abandonado na essência dos dons
Com mil tons...
Sem mil tons...
Um blues de piano
Um blues soberano
De um tipo malhado
Um sonho molhado
Anjo que me ensine, me afague e me mate de paixão
Um blues feito éter
Um blues a caráter
Com um jeito safado
Um transe roubado
Diabo que me acenda, me atice e me mate de tesão
Quero cantar um blues...
DIALOGANDO
(Irmão – Tonho Baixinho)
Participação Especial: CRIS EMMEL
Dialogando com a manhã
O vento quebra as molas
Todas as manhãs
Se é mistério o que me trazes
Pergunto
Porém, eu já sei
Se é verdade ou mentira
Tudo aquilo que se diz
Aconteceu bem de repente
E eu pensei até que ia morrer
Mas não pensou simplesmente
Que a vida é feita para se viver
Aconteceu bem de repente
E eu pensei até que ia morrer
VIOLAR
(Rubens Lisboa)
Ê, viola, viola, violar
Cadê o assunto escondido no pensar?
Cadê o encanto perdido no olhar?
Cadê o mundo contido no cantar?
Minha viola é brejeira
É de sonho, ilusão
Aureolada de vento, de cheiro, de chão
Minha viola que sopra as toadas
Que toca as cantigas
Antigas, sofridas de lá do sertão
Minha viola é festeira
É Natal, São João
A redondilha das prosas, da lenda em canção
Minha viola que entoa as modinhas
Que lança as cirandas
As tantas bonitas de lá do sertão
Do sertão, olerê!
Do sertão...
Do sertão, camará!
Do sertão...
Cutucou
Meteu o dedo da mão na corda do lá
Esse som é meu
Nego se achegue que vai esquentar
Que compasso doido!
Divisão de danar!
No toque da viola, a vida dá o tempo pra a gente criar
PALHACINHO
(Rubens Lisboa)
Palhacinho fez arte e tão assim, meio de lua...
Sorriu tristinho, olhou pro seu além
Foi pra rua...
Sumiu no mundo
Caiu na vida e fim:
Estrela.
Rubens Lisboa não tirou por menos, gravou 20 músicas no seu primeiro CD. Um show de interpretação, repertório glorioso, uma mistura surrealista de compositores em sequência perfeita e voz impecável.
ILMA FONTES (jornalista e cineasta)